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As carcaças incineradas de macacos, cobras e jacarés pontilham as extensões carbonizadas do outrora verdejante pantanal, a maior planície alagável do mundo.
Ao cair da noite, uma torre de fumaça ilumina o céu. Não há descanso para o fogo ou para os animais que tentam fugir.
“Como a queimada é de uma proporção muito grande, não dá tempo de eles fugirem e às vezes nem têm para onde fugir”, diz Delcio Rodrigues, diretor do Instituto ClimaInfo.
O padrão climático El Niño, sobrecarregado pelas mudanças climáticas, secou os rios da região e interrompeu suas inundações sazonais habituais, deixando o ecossistema vulnerável a incêndios.
De janeiro ao início de junho de 2024, os focos de incêndio no bioma aumentaram 974% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Programa de BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Este ano se encaminha para superar 2020 como o pior já registrado em termos de incêndios florestais no pantanal. Em 2020, as chamas mataram cerca de 17 milhões de vertebrados, de acordo com um estudo publicado na Scientific Reports.
O patrimônio mundial da Unesco, que abrange uma área com mais de duas vezes o tamanho de Portugal, abriga a maior espécie de onça-pintada do mundo, além de espécies como a anta e o tamanduá-bandeira, ameaçados de extinção.
Especialistas alertam para os riscos para essas populações no momento em que a região ingressa na estação mais temida para incêndios florestais, geralmente com pico em setembro.
“Tudo isso, quer dizer, a mudança climática mais as queimadas, eles acabam mudando completamente o ambiente e, a longo prazo, a redução da biodiversidade, perda de habitat”, diz Rodrigues. “Os animais selvagens não têm para onde ir.”
“Perda de qualidade do solo, consequências para a saúde humana, você tem vários impactos dessa situação”, acrescenta.